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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Nasci e Cresci com o ECA

Fui convidado a contar minha história até os dezoito anos de idade para esta publicação em homenagem ao 18º aniversário do Estatuto da Criança e do Adolescente. A minha história se mostra uma das menos interessantes, mais vale à pena ler a história de outros 16 jovens do Maranhão, que também fizeram 18 anos junto ao ECA. Cada história trás um tema diferente, a minha fala sobre o Protagonismo Infanto-Juvenil. Com a Realização da Agência de Notícias da Infância Matraca e Parceria do UNICEF São Luís, é uma boa pedida para quem quer conhecer a diversidade histórica da infância do Maranhão.
Ah! O livro foi Ganhador do Prêmio Norte e Nordeste da ABERJE‏ em 2009.
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A Rota do Amendoim

Por Enilson Costa Ribeiro
Ao longo do tempo, tenho percebido com muita tristeza como o trabalho infantil tem ceifado a vida da juventude. Na região onde eu moro Vila São Luís (Bairro Anjo da Guarda) tem uma atividade bem específica, que é a venda do amendoim. Os garotos (estes se envolve muito mais comumente) saem de casa logo antes do anoitecer, retornando apenas com o nascer do sol.
Passam a noite se aventurando nos bares do centro da cidade, em busca de compradores de seus produtos. Esta venda de amendoim começa sempre por volta dos doze anos de idade, e como resultado disso alguns passam a utilizar drogas abusivamente, ou entrar no jogo do tráfico de drogas. Outros saem de casa e não retornam mais, passam a vivenciar a situação de rua. No centro Histórico de São Luís, vez ou outra, encontro alguns de meus vizinhos de infância como pedintes de esmola.
Lembro agora da história de um de meus vizinhos, começou a vender amendoim a noite, logo começou a usar drogas e vender pelo bairro, hoje está preso por porte ilegal de armas (aguardando julgamento), era considerado um dos maiores vendedores de drogas da área Itaqui-Bacanga. Culpa dos pais?
Não, por mais que pareça não é, a verdade é que diante da pobreza extrema, as famílias buscam a utilizar dos únicos subsídios que tem, e que muitas das vezes, esses subsídios acabam expondo seus filhos a situação de rua, as drogas ou até mesmo a morte.
Isso mesmo. Lembro mais uma vez de outro vizinho que também passou pela mesma rota do amendoim, este viveu a situação de rua, usou de drogas abusivamente e como resultado de tudo isso acabou por falecer de câncer.
Este caso é bem específico, por que praticamente toda família passou por essa situação, inclusive as meninas. Estas passam por diversas situações, entre elas a exploração sexual que ao contrário do que se pensa tem se fortalecido em São Luís, com a chegada das grades empresas, e com elas de pessoas de diversas regiões do Brasil e do Mundo, as meninas acabam sendo exploradas sexualmente, isso principalmente na Área Itaqui-Bacanga onde temos um Porto do Itaqui, a Vale, a Alumar e outras grades empresas. Isso só prova que crescimento econômico nem sempre vem junto do crescimento social.
Diante de tudo isso, precisamos de políticas que sejam de fato públicas e não de programas de governo que empurram para debaixo do já pequeno tapete, os problemas sócias. De uma política que combata a situação de rua, não com a polícia ou os aparelhos de uso de força do governo, mais combatendo a miséria extrema, a quem a maioria do Ludoviscences está submetida. Assim desarticular esta Rota que quase ninguém vê como perigosa mais que perpetua este extermínio permanente da juventude, sobretudo a pobre e negra.




Nota:
Este Titulo "A Rota do Amendoim" foi uma sugestão de Ivana Braga.... Durante uma conversa....
Valeu Ivana...